Wednesday, January 24, 2007

Ela chama-se Laura. Chama-se não, chamava-se. O sabor das suas lágrimas ainda ecoa pela minha mente e arrepia-me a alma. Ecoa a sua voz maviosa como se fosse um zumbido irritante nos meus ouvidos. Ela costumava apertar-me e abraçar-me com força encostando a cabeça ao meu peito. Dizia-me que eu afastava as energias negativas. Dizia-me que eu lhe dáva conforto. As minhas memórias preferidas dela ainda são levadas numa corrente de pranto até às margens mais recônditas do meu inconsciente. Ficam lá a martelar umas contra as outras como traineiras encalhadas e perdidas, entre dois pedregulhos no mar alto. São como corvos famintos que debicam o meu descanso nocturno até eu perder o sono e a vontade de repousar.
Sinto a garganta seca como se tivesse engolido areia. Não me lembro do que fiz ontem à noite. Não me lembro do que fiz hoje de manhã. Os dias passam por mim. As tardes passam por mim. As noites passam por mim. Cada dia é uma fotocópia do anterior. Tudo é vazio de significado como o léxico de uma língua que não se domina. Começo a ficar assustado comigo próprio. Caminho em direcção a um vórtice de auto-destruíção que se aproxima lentamente. Cinza seria a cor dele, caso eu tivesse um coração.
Neste sítio tudo é desolador e embora tudo esteja diferente, agora, eu sei que está tudo na mesma. Para onde quer que eu olhe, só a vejo a ela. A ela e a uma filha da puta de uma recordação da pessoa que eu costumava ser...