Monday, October 23, 2006

Faz mais de um ano que ela se foi embora. Para sempre. Parecem os sinos que anunciaram a sua partida, aquando numa cama de cetim pérola a vi pela última vez. Estes sinos relembram fantasmas. Tão frágil e seráfica como o anjo que era. Os cabelos da cor de chocolate negro escorridos pelos ombros abaixo e a face tão serena como quando a vi pela primeira vez. Sob o seu peito que costumava ter um hipnotizante ondular musical e gracioso (agora quedo) repousavam as suas delicadas mãos tão níveas frias e perfeitas como se tivessem sido esculpidas a cinzel no mais requintado mármore de Paros. Nos lábios tão fulvos como uma framboesa, um sorriso puro. Não parecia viva mas também não parecia uma estátua de cera num museu de Londres. Parecia que estava a dormir. Mais que isso, parecia que estava dormir e a sonhar. Não há dúvida que fizeram um bom trabalho na funerária.

2 comments:

susana said...

Era por ela que os sinos repicavam lá embaixo na aldeia??

Inês Ramos said...

Dentro da cabeça do narrador, era sim. ;)