Monday, November 06, 2006

Entreaberto entre planos equidistantes a respiração emerge em soluços, puxado pelo vento de cabelos enlaçados, fechado em masmorras de ferrugem. É verdade que o tempo não volta, mas sempre a questão sufocará os pedaços da dor que a barreira oprime: aonde está o som retalhado?!...Chove, continua a chover, pontos vazios preenchem o ar, abrem-se crateras robustas a cravar a terra, a rasgar o mármore. Cada fragmento fica descoberto com salpicos de pedras afiadas, os ossos estão limados em brilho intenso, até o eco dos impulsos famintos tilintam dentro das Almas cobardes. O perdão dos sinos blasfema contra o sono imortal da pureza da água, num instante de épocas trocadas a ouvir a memória do aroma da terra trespassada, profanada. O coveiro aproxima-se das ossadas e retira um fio de prata da terra. Fica gelado quando olha para a pedra transparente que o fio segura, seus olhos vertem lágrimas de sangue congeladas, enquanto eles esvoaçam em direcção à pedra transparente. O caixão foi violado...

3 comments:

Lord of Erewhon said...

Belo texto!
(Se foi violado... juro que não fui eu!)

P. S. Vai so Crónicas: http://cronicasdapeste.blogspot.com/

:)=

susana said...

Bem, tinhas de o fazer....já que não o fizeste ainda na realidade, optaste pela ficção!Sem dúvida quem quem o violou foste tu!

beijos (mas está interessante, continuem!)

Anonymous said...

Escreve-se bem por aqui hem!
Parabéns. Denoto facilmente a paixão que desenvolves pelas palavras.
Bem hajas.